quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Beijo na testa e gozada na cara

Sou um amontoado de citações, letras de música e falas de comédias românticas água-com-açúcar dos anos 90.

Sou 30 anos de clichês românticos.

Mesmo com tanta coisa acontecendo no mundo real, tanta coisa que me afeta diretamente, tenho me refugiado nos filmes que marcaram minha adolescência pra tentar entender o motivo pelo qual eu sou assim: essa bagunça temperamental da qual todos fogem, que todos evitam, a qual todos irrita com cobranças e questionamentos e desconfiança.

Passei os últimos dias tentando encontrar palavras pra descrever como é, como eu raciocino com esse meu jeitinho todo especial de foder com a porra toda e chego a conclusões estapafúrdias (adoro essa palavra), conclusões essas que, na boa?, você não vai conseguir abalar sequer um pouco, não importa o argumento que use. Taí uma coisa que sempre dizem de mim: que sou cabeça dura, e que quando implico, quando cismo que as coisas são do jeito que penso que são, já era. Uma amiga minha me chama carinhosamente de "concretinho" por causa disso. Aí eu assisti aos meus filmes românticos, chorei, ouvi as músicas das trilhas milhares de vezes, escrevi, postei trechos dos filmes...E o post ficou gigante. Desisti de tentar terminar.

Desisti de tentar explicar, na verdade. Explicar pra quem? Pra quê? Todo cara com quem me envolvi nos últimos tempos deve dar graças aos deuses por ter se livrado de mim. E nessas de querer entender o porquê que isso acontece, fui atrás de pistas nos filmes. Por que os filmes? Porque num comentário no outro blog, um cara disse que sou romântica, por isso meu desconforto em constatar que o "amor-tesão" como ele coloca, não anda junto necessariamente com o "amor-romântico". E que somos induzidos a acreditar na fórmula amor-rômantico + amor-tesão por causa dos milhares de filmes e séries e novelas que consumimos ao longo da vida.

Eis o comentário do leitor:

"Barbara, acho que você mesma apontou a conclusão. Você é romântica, como a maioria das pessoas de nossa época e lugar. No modelo de amor do romantismo, que predomina nossa sociedade, amor e paixão são conceitos indissociáveis. Há quem o chame de "amor-paixão" Procuramos Um Grande Amor, A Metade da Laranja; e essa pessoa deve necessariamente aquela por quem sentiremos O Grande Tesão, uma atração irresistível. Mas será mesmo que as pessoas por quem sentimos O maior Tesão, é a mesma com quem queremos compartilhar uma casa, criar uma criança juntos? Na vida "vida real", nosso carinho, companheirismo, cuidado mútuo - características que atribuímos ao Amor - muitas vezes estão dissociados com tesão, desejo, fetiche, paixão da mesma forma que no modelo romântico. A grande questão é que temos poucos referenciais de amor que não se enquadre no modelo romântico. A maioria dos filmes, seriados, novelas - que servem de modelo para nosso comportamento social - seguem a linha romântica. Daí a dissociação entre o que esperamos sentir e o que verdadeiramente sentimos; gera um descompasso, um desconforto..."

Quando se está escrevendo sobre putaria, você quer ser chamada de tudo, menos de romântica. Mas a verdade é que eu sou, sim. E meu alterego putanheiro falhou estrondosamente em disfarçar isso. Foi então que me dei conta que, de fato, novelas e filmes e séries e músicas, tudo isso serve "de modelo pro nosso comportamento social", o que não quer necessariamente dizer que são só mentirinhas, historinhas fofinhas que servem pra tornar nossa vida menos filha da puta. Ou são e eu sou trouxa? Falando assim, soa como se eu ainda acreditasse em Papai Noel, sei lá. Aí eu pensei: "Por que não assistir de novo a comédia romântica referência total da minha adolescência e ver se ainda acredito em tudo que tá lá? E eu procurei, achei e assisti. E quase não parei mais de chorar.


Ainda tá tudo lá: todos os problemas de autoestima da protagonista, a idealização do amor-romântico, a dor da rejeição...Tudo com o que eu me identifiquei quando tinha, sei lá, 13, 14 anos tá lá. E o pior: eu ainda me identifico. Talvez, mais do que nunca.

E eu fiquei pensativa, e bebi tudo o que tinha em casa, e chorei, e ouvi Nessun Dorma (que toca no fim do filme) milhares de vezes. E desde então, toda noite tenho assistido um filme da década de 90 cujas referências românticas tornaram minha vida amorosa essa tragicomédia cheia de lugares-comuns e frases feitas.

E querem saber? FODA-SE. Eu sou romântica. Eu quero um Gregory Larkin, que repare nas minhas manias mais bobas e me ache adorável ao invés de doida. Ainda melhor: quero um Mark Darcy, que goste de mim do jeito que eu sou e de quem eu não precise esconder meus "wobbly bits". 


Quero alguém com quem eu possa conversar sobre tudo, e o tempo passe tão rápido que a gente nem se dê conta de estamos falando há horas. Quero um "Antes do Amanhecer". 


Quero alguém que goste de mim do jeito que eu sou, alguém que saiba as coisas mais embaraçosas a meu respeito e ainda assim goste de mim. Quero fins de semana preguiçosos em casa, vendo filme e comendo pizza, e quero noites de bar e cerveja e classic rock. Quero game nights. Quero viagens a dois. Quero foder. Quero me sentir desejada, quero putaria ao pé do ouvido, por sms e e-mail. Por que caralhos dissociar amor de tesão quando se é perfeitamente possível sentir os dois pela mesma pessoa? Beijinho na testa e gozada na cara convivem harmoniosamente, pelo menos na minha imaginação.

Mas mesmo querendo tudo isso, e querendo acreditar do fundo do coração que é possível existir relacionamento assim, outro elemento é somado a equação: o tempo. Tô velha e o tempo tá passando, as amigas tão casando e eu aqui, dando murro em ponta de faca, como dizem. E se relacionamentos amorosos forem só isso que a gente vê por aí? Alguém com quem você vai ficando, vai ficando e, quando vê, tá casado e com filhos, pagando prestação da casa e do carro? E a mesmice e as responsabilidades vão deixando tudo mais chato, mais sem gosto, e o olhar tem aquela opacidade de olhar de bicho de cativeiro.

Provavelmente, nunca vou experimentar nenhum dos dois: nem a sensação de andar nas nuvens dos relacionamentos de filmes românticos, nem a realidade nua e crua dos relacionamentos pé-no-chão. Nem nunca vou entender o que me faz estragar tudo sempre. A Superinteressante já tinha me avisado que filmes românticos estragam nossas vidas, e talvez eles façam mesmo a gente criar expectativas demais e complicar demais o que era pra ser simples. Mas na real? As histórias podem até ser bobinhas e cheias de clichês cafonas, mas as trilhas sonoras são maravilhosas.

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